Me lembro dos meus tempos de criança, quando acordava de manhã e as vezes de madrugada apenas para assistir às corridas de Fórmula 1. Mesmo quando não estava em casa, sempre dava um jeito de não perder uma corrida sequer.
Gostava muito de assistir com um tio meu. Naquela época vários pilotos do Brasil se destacavam e eram bastante competitivos, a ponto de podermos nos dar ao luxo de escolher para qual brasileiro torcer. Eu torcia para o Ayrton Senna e meu tio para o Nelson Piquet.
Não que eu não torcesse também para o Piquet e meu tio não ficasse feliz quando o Senna ganhava, mas tínhamos nosso favorito. Como disse, o Brasil era muito bem representado.
O engraçado que essa camaradagem entre as torcidas não se repetia com esses pilotos, que por várias vezes já discutiram. O motivo? Ambos queriam ganhar, não bastava chegar em segundo lugar. E não importa o que acontecesse, eles faziam o possível para estar no topo do pódio.
Bons tempos aqueles... Hoje em particular senti ainda mais falta daquela época em que os pilotos tinham como meta apenas a vitória... O dinheiro? Apenas conseqüência do bom trabalho desempenhado. Mas hoje eu vi se repetir uma cena vergonhosa para a Fórmula 1, onde o piloto que estava liderando permitiu ser ultrapassado pelo seu companheiro de equipe após uma ordem do chefe da Ferrari.
Mais revoltante ainda é que o piloto que estava liderando a corrido era ninguém menos do que o brasileiro Felipe Massa. Fico imaginando o quanto o saudoso Senna deve ter se envergonhado se de alguma forma ele viu a cena.
Mas mesmo deixando o patriotismo de lado, continuei de lado. Se fosse o contrário e o Fernando Alonso permitisse o Felipe Massa ultrapassasse-o para ganhar a corrida, a cena continuaria sendo vergonhosa. Então por que fazer isso? A resposta está na equipe, para o qual só importa mesmo os pontos. O Alonso está numa posição melhor no campeonato e a vitória o permite continuar na disputa pelo campeonato. Além disso, deve ter passado na cabeça da Ferrari a cena onde os pilotos da Red Bull se chocaram numa disputa de posição e no fim ambos acabaram fora da corrida (e a Red Bull perdeu os pontos dos dois pilotos). Mas isso não muda o fato de que atitudes como essa deixam a Formula 1 menos competitiva e mais política.
E vai ficar por isso mesmo? Pela punição que a FIA aplicou na Ferrari, vai sim... Tudo o que fizeram foi aplicar uma multa de US$ 100.000 para a Ferrari pagar. Para uma equipe como a Ferrari, isso é troco de bala.
E o Massa, poderia ter feito diferente? Acredito que sim. Ao invés de ter permitido a ultrapassagem e ter deixado isso bem claro para todos, poderia ter impedido a ultrapassagem. Ao invés de se fazer de vítima, poderia ser taxado como um herói, que não baixou a cabeça para a equipe que lhe proibiu de fazer o serviço para o qual foi contratado: ganhar! Mesmo que fosse punido pela equipe, ele poderia correr por outra no futuro. Do que adianta correr se sua equipe não te deixa ganhar? Claro que tem a questão do salário que o piloto ganha, não é? Mas o Massa já ganhou tanto dinheiro que hoje ele poderia até ganhar menos para competir numa equipe que o valorize mais.
Se alguém acha isso um absurdo, é só lembrar do Senna que propôs correr de graça para a Williams só porque esta era a melhor equipe naquele ano. Quando perguntado o por que dele ter se proposto aquilo, respondeu que o importante dele competir na Fórmula 1 era pela vitória e que o dinheiro seria a conseqüência do seu trabalho.
Mas está claro que o Massa não pensa assim... E talvez nenhum piloto que corra hoje também... E a Fórmula 1 vai morrendo mais um pouquinho à cada ano...
domingo, 25 de julho de 2010
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